4 livros duros de decifrar

Para alguns autores, escrever não é se fazer entender. O propósito é exatamente o contrário. O fato é que a humanidade já se presenteou com alguns livros cujas compreensões são bem difíceis, se não impossíveis. E não estamos falando de James Joyce ou Olavo Bilac, mas de obras capazes de enganar os maiores criptógrafos e pesquisadores do mundo. Confira a lista com alguns dos títulos mais complicados da história.

Codex Seraphinianus


O primeiro fato que você deve saber acerca desse livro é que o autor ainda está vivo. Apesar do nome e das peculiares ilustrações, foi escrito pelo arquiteto Luigi Serafini entre 1976 e 1978, com publicação em 1981. Trata-se de uma enciclopédia sem sentido com desenhos oníricos e surreais, distribuídos em cerca de 400 páginas e 11 capítulos. Segundo o autor, o alfabeto utilizado não codifica nenhuma mensagem, o que não convenceu especialistas. Em uma palestra na Universidade de Oxford, Luigi argumentou que a ideia é dar aos leitores a mesma sensação que uma criança tem ao ler livros destinados a adultos: ou seja, não tem ideia do que vê, mas imagina que há algo por trás dos signos. Pode parecer nonsense, mas o livro já foi republicado quatro vezes e inspirou mentes brilhantes, como Douglas Hofstadter e Italo Calvino.

Manuscrito Voynich


Diferente do Codex Seraphinianus, o Manuscrito Voynich não tem autor conhecido e sua codificação é ainda mais impenetrável. Estima-se que tenha sido escrito há cerca de 600 anos, e, desde que foi redescoberto no início do século 20 pelo polaco-americano Wildrid Voynich, grafólogos tentam decifrar o mistério oculto nas linhas do manuscrito. Nunca conseguiram sequer uma frase. Voynich, um mercador de livros, comprou o manuscrito  do colégio jesuíta de Villa Mondragone, na Itália, que precisava de recursos para reformas. Junto com o enigmático papiro, encontrou uma carta de Johannes Marcus Marci, reitor da Universidade de Praga (Hungria) e médico particular de Rodolfo II da Germânia, enviada a um polígrafo romano solicitando que o livro fosse decifrado. A tese mais aceita hoje é que o Manuscrito Voynich não passou de uma tentativa de embuste arquitetada pelo falsário inglês Edward Kelley, com o auxílio do filósofo e matemático John Dee, para enganar Rodolfo II, arrancando uma considerável soma financeira. Parece que funcionou.

O livro de Soyga


Não se sabe quem escreveu, mas o já citado John Dee possuiu um desses manuscritos. Após a morte do estudioso elizabetano, o livro de Soyga (ou Aldaraia) foi dado como perdido até 1994, quando dois manuscritos foram localizados – um na Biblioteca Britânica e outro na Biblioteca Bodleiana. Os códices são semelhantes em volume, um com 147 páginas e o 'irmão' com 197. O livro é composto por uma estrutura de capítulos – Liber Aldaraia, Liber Radiorum e Liber decimus septimus, bem como outros sem nome. A codificação do livro é tão complicada que Dee, um de seus mais dedicados estudiosos, alegou ter conversado com o arcanjo Uriel para decifrá-lo – são 46 mil caracteres espalhados em 36 tabelas. Mas pelo jeito a resposta estava mais distante: segundo o arcanjo, o livro teria sido entregue a Adão no Jardim do Éden, e seu código só era conhecido pelo Arcanjo Miguel. Dee não conseguiu conversar com Miguel em vida. O enigma só foi solucionado em 2006 pelo criptógrafo James Reeds – inclusive foi possível desenvolver um script para codificar qualquer nome no alfabeto de Soyga.

Rohonc Codex


Foi escrito por um autor desconhecido, em linguagem e sistema de escritas indecifráveis. O único fato que se sabe a respeito do manuscrito ilustrado é que simplesmente foi mantido em uma biblioteca particular na cidade de Rohonc – na época Hungria, hoje conhecida como Rechnitz, Áustria – e doado em 1838 para a Academia de Ciências, junto com toda a biblioteca do conde Guztáv Batthyány. Alguns estudiosos consideram o códice uma farsa do século 18 produzida pelo antiquário Sámuel Literáti Nemes, conhecido por produzir falsificações históricas extremamente verossímeis. Mas essa opinião não é unânime, já que não há evidências que liguem o manuscrito ao suposto fraudador. Para se ter uma ideia da complexidade, alfabetos geralmente têm entre 20 e 40 caracteres: o Rohonc Codex tem quase 200 em suas 448 páginas. Também não há certeza sobre o local onde teria sido escrito; Hungria, Romênia e Índia estão entre as possibilidades. Está disponível online, se você se interessar em decifrar o código.