De maneira inesperada, Bob Dylan – nome artístico de Robert Allen Zimmerman – foi apontado como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2016, mesma categoria em que concorria a brasileira Lygia Fagundes Telles. De acordo com a Academia, a escolha do cantor se deu por Dylan "ter criado novas expressões poéticas dentro da grande tradição musical norte-americana".
Premiar um músico com o Nobel considerando suas letras como produção literária é algo inédito. Dylan, cujo apelido foi inspirado no nome do poeta Dylan Thomas, tem apenas dois livros autorais publicados – um deles de ficção e outro de crônicas autobiográficas, além de antologias de suas pinturas – mas suas canções têm um respaldo poético e literário perceptível, tal como as músicas de Chico Buarque e Milton Nascimento, por exemplo.
Artista de múltiplos talentos, Dylan também é pintor e desenhista. Algumas de suas obras estão reunidas no livro The Drawn Blank Series e The Brazil Series e foram expostas no Museu Kunstsammlungen, na Alemanha, ao lado das telas de Munch e Picasso.
Infelizmente, algumas das obras referenciadas neste post estão esgotadas ou disponíveis apenas em inglês, mas devem ganhar novas edições em breve. Graças à premiação.
+ 4 livros de Bob Dylan
Tarantula
É o único livro de ficção do cantor norte-americano. Foi escrito em 1966 e publicado oficialmente em 1971. Ao Brasil, só chegou em 1986 em uma edição da Brasiliense, porém as edições mais recentes estão esgotadas; para achar o título em português é preciso catar pelos sebos literários. O livro é um trabalho de literatura experimental que mistura elementos de prosa e poesia, como o fluxo de consciência.
Crônicas, Vol. 1
Reúne crônicas autobiográficas de Bob Dylan. A ideia é que sejam publicados outros dois volumes, porém não há previsão.
The Drawn Blank Series
Antologia de desenhos e pinturas do cantor que foram criados entre 1989 e 1992 durante uma turnê; a primeira publicação saiu em 1994. Em 2006, a curadora do Kunstsammlungen Museum, Ingrid Mössinger, teve contato com o trabalho de Dylan e o convidou para realizar uma exposição no museu alemão. Foi a primeira exposição de arte do cantor. No entanto, Dylan, acostumado a mudar e mexer em seu próprio estilo ao longo da vida, não quer que a série represente todo o seu trabalho como pintor.
The Brazil Series
Após dar por concluída a série Drawn Blank, Dylan começou um novo ciclo para uma exposição em Copenhague, Dinamarca. Em The Brazil Series, o cantor explora cores e texturas que representam sua visão e sentimentos acerca do Brasil, transitando na dicotomia entre fascinação e pobreza.
+ 6 livros sobre Bob Dylan
No direction home: a vida e a música de Bob Dylan
Após um artigo no The New York Times em que apresentava o então desconhecido Bob Dylan ao público norte-americano, o jornalista Robert Shelton foi o único que o cantor permitiu que o acompanhasse durante um bom tempo. O livro fala sobre a carreira de Dylan, seus discos, traz comentários de outros músicos e depoimentos de Dylan.
A balada de Bob Dylan
Livros biográficos sobre Bob Dylan existem em profusão. Mesmo assim, poucos se repetem. Sempre existe uma faceta diferente na carreira do cantor que pode ser explorada. Em A balada de Bob Dylan, Daniel Mark Epstein apresenta quatro recortes importantes na carreira do cantor – 1963, 1974, 1997 e 2009 – que revelam sua versatilidade frente às transições de gerações e culturas.
O guia do Bob Dylan
O livro é parte de uma série britânica de obras de referência da Penguin Books sobre várias personalidades. O livro, escrito por Nigel Williamson, tem formato de almanaque e, além da biografia do músico, apresenta curiosodades, as 50 músicas essenciais e suas histórias, discografia completa e outras informações que ajudam a conhecer melhor a personalidade do cantor. Livro fundamental para fãs de longa data.
Who is that man? In search of the real Bob Dylan
Quem é o verdadeiro Bob Dylan? O renomado músico incorpora várias personas e significados, ao mesmo tempo em que se mostra discreto – Um novo Elvis, Messias do Folk, Tesouro Nacional ou apenas um Zimmerman de Minessota. O historiador, jornalista e romancista David Dalton fez um perfil à altura de Dylan a partir de depoimentos de pessoas próximas. O livro traz uma nova – ou várias – perspectivas do lendário cantor.
Forever Young
A autoria do livro é atribuída a Bob Dylan, mas sua participação se resumiu a ceder os direitos comerciais das letras para o ilustrador Paul Rogers, que se encarregou de ilustrar as canções. Não se trata de uma biografia exaustiva, mas de um tributo singelo ao cantor folk com o título de uma de suas canções preferidas.
Like a rolling stone
Outra obra de referência com dados precisos sobre a produção de Bob Dylan. O musicólogo e poeta Brian Hilton apresenta todos os álbuns, datas de lançamentos, créditos, duração de cada faixa, músicos que acompanharam Dylan nos respectivos discos, e comentários sobre todas as músicas. Sem dúvida é uma obra que ajuda a compreender o motivo pelo qual Dylan foi laureado pelo Nobel de Literatura.
+ 4 livros que inspiraram Bob Dylan
As vinhas da ira
John Steinback é um dos autores favoritos de Dylan. O músico escreveu um ensaio de 15 páginas sobre a obra-prima do escritor, As vinhas da ira. A trama se passa na Grande Depressão da década de 30 e narra a história de uma família de fazendeiros que são expulsos de terras arrendadas por conta da seca, das dificuldades econômicas e da execução de dívidas pelos bancos. A obra recebeu o National Book Award e o Pulitzer de Ficção, além de ter sido citada quanto Steinbeck recebeu o nobel de Literatura em 1962.
Trópico de câncer
Henry Miller narra em primeira pessoa, com um timbre autobiográfico, aventuras boêmias pela Paris da década de 30 enquanto aventureiro autoexilado. Por conter cenas classificadas como pornográficas, o livro foi proibido no país natal do escritor, os EUA, desde a sua publicação até 1961, quase três décadas depois. Bob Dylan, em uma entrevista à Playboy, apontou Henry Miller como o maior escritor norte-americano.
On the road
Clássico na literatura marginal da geração beat, On the road, de Jack Kerouac, inspirou artistas de vários estilos e épocas. Bob Dylan foi um deles. O livro é escrito em uma prosa espontânea, quase oral, com um estilo próximo ao fluxo de consciência e também com inspiração autobiográfica. Narra a viagem de dois amigos pelas estradas dos Estados Unidos em uma jornada repleta de jazz, drogas, sexo e bebidas. Foi escrito em 1951, mas só chegou a ser publicado pela primeira vez em 1957, após ser rejeitado por várias editoras.
Uivo
"Foram Ginsberg e Jack Kerouac quem me inspiraram", afirmou certa vez Bob Dylan. Uivo, livro de poemas de Allen Ginsberg, outro célebre escritor da geração beatnik, não decepcionou em entrar para a lista de obras censuradas. Apontado como obsceno, é o livro de poesias mais vendido da história dos Estados Unidos, atingindo em pouco tempo a marca de um milhão de exemplares comercializados.
*Agradecimentos ao jornalista André Cananéia pela ajuda na curadoria.