Como uma oficina literária a distância melhorou minha escrita


Já mencionei em outro post os motivos pelos quais eu considero vantajoso participar de uma oficina de literatura. O Brasil tem ótimos escritores que também atuam como instrutores de oficinas. Além disso, aprendemos não só a escrever melhor, como também a ler melhor, algo raro no Brasil hoje. Nosso país, todavia, é extenso e nem sempre há uma oficina de literatura nas cercanias. Na verdade, elas são mais comuns em bolsões metropolitanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. E mesmo nas grandes cidades, não é todo mundo que tem tempo para se deslocar, participar do encontro e entregar todas as atividades toda semana.

Para dialogar com esse público não tão restrito, profissionais da escrita passaram a oferecer a modalidade à distância. "A grande vantagem de uma oficina online, como qualquer curso online, é que o participante faz quando e de onde quiser", garante o jornalista e escritor Marcelo Spalding, diretor da Metamorfose Cursos. Para contornar a ausência do contato com os estudantes, a estratégia é oferecer outros serviços, como avaliação crítica dos textos produzidos – no mercado, é um trabalho que custa caro –, criação de antologias com os contos produzidos na oficina e edição dos escritos dos alunos interessados em publicar.

Sempre tive interesse, por essas e outras razões, em participar de uma oficina de criação literária a distância, mesmo já tendo passado por uma presencial. Surpreendentemente, não foi tão fácil encontrar pelos meios tradicionais, considerando meus critérios e exigências de qualidade. Por isso, a questão da credibilidade também foi levantada, já que nem precisa rodar muito para encontrar especialistas em lero-lero. Uma boa oficina não se concentra em aspectos motivacionais, mas em métodos, técnicas e recomendações de escrita que só podem ser dominados com olhos nos livros e bunda na cadeira.

Um exemplo: você sabe o que é um texto literário, e o que pode ser considerado como literatura? Em geral, a essa pergunta surgem respostas polarizadas, que oscilam entre um purismo artístico quase parnasiano e o vale-tudo do tipo "o que importa é ter leitores". A estética é importante, e quem escreve deve saber o mínimo sobre ela. Caso contrário, a tentativa de um texto literário será um enrolado de clichês, palavras mal empregadas e situações inverossímeis. E sim, mesmo histórias sobre elfos e dragões precisam ter verossimilhança.

Por fim, exercícios, bons exercícios. Um deles cheguei inclusive a publicar. Boa parte dos assuntos estudados eu já sabia pela prática. Outros foram novidade para mim. É o caso do planejamento de histórias. Ao contrário de muitos escritores, sou meio incapaz de estruturar narrativas longas. Tenho paixão pelas palavras, narrativas curtas, o conto definitivamente é o meu gênero. No entanto não faz mal construir o enredo de um romance, e quando eu o fizer, não será pela intuição. O aprendizado da oficina vai me ajudar nesse aspecto.

Outras experiências

Jussara Lucena, pedagoga e advogada, só começou a escrever depois da aposentadoria. Começou com uma oficina presencial na sua cidade. Em seguida decidiu realizar uma oficina à distância. "A oficina do Marcelo oferecia tanto a teoria quanto a prática, bem como orientação e dicas para escrever. Meu aproveitamento foi muito bom, aprendi muito, o que me valeu como base para um bom desempenho em outras oficinas literárias de que participo", afirma. Ela já escreveu para publicações no Brasil, em Portugal e no Uruguai, além de ter um livro próprio de contos, publicado pela editora que o próprio Spalding criou para ajudar seus alunos a transformarem seus textos em livros.

Já o analista de sistemas Alexandre Marques procurou a oficina quando já estava com o livro praticamente concluído. Nunca foi escritor de carreira nem havia participado de oficinas, seu contato com a literatura se dava apenas pelo prazer de ler. Decidiu narrar um episódio que aconteceu na sua vida e transformar isso em um romance. "Todos que participaram ou ouviam a história diziam a mesma coisa: 'isso é um livro'. Um dia, tomei coragem e corri atrás. Até então eu só havia escrito artigos acadêmicos", lembra. "Como o valor era baixo e eu nunca tinha participado de nada parecido, entrei de cabeça", conclui.

Realizar o curso à distância também é uma opção útil para quem trabalha o dia inteiro ou não tem condições – e vontade – de se locomover ao local dos encontros presenciais. "Moro numa cidade do interior, um pouco distante de centros maiores e tenho a minha ocupação profissional que ocupa grande parte do meu tempo, além da minha vida em família", relata o administrador Adnelson Campos. Ele conta que seu conhecimento literário se resumia ao que foi aprendido nos bancos escolares e por sua própria curiosidade. Quando inscreveu seu primeiro texto em um concurso, foi selecionado e quis aprimorar seu trabalho como escritor. "Tive acesso a uma série de informações que nem imaginava que encontraria, e isso me permitiu ampliar a minha visão sobre a escrita", diz.

Vaidade

Por outro lado, existem problemas comuns às duas modalidades. Um deles é a vaidade dos alunos. "A maior dificuldade é lidar com a frustração. Tem gente que faz oficina para ser elogiado, para ter seu texto chancelado", conta Marcelo Spalding. Ele enfatiza que uma oficina é um momento de aprendizado, onde o aluno pode aprender a fazer melhores escolhas para sua história. "Não há certo em errado em literatura, ou há pouco de certo e errado, é tudo uma questão de estética, de convenções", explica.

Aprendizado

Para quem resiste às críticas, o aprendizado é garantido. "Todo mundo que participa de uma oficina literária aprende a ler melhor, começa a perceber os aspectos técnicos do texto, da linguagem. Isso eu considero fantástico, pois nos permite escrever melhor não só literatura, mas qualquer tipo de texto", ressalta o instrutor. "O propósito da oficina é instrumentalizar o participante a decidir o que é melhor ou não para o seu texto, tomar consciência de suas decisões técnicas, como narrador, personagem, entre outros aspectos", detalha Spalding.

Fechando

Como quase tudo na vida, o aproveitamento de uma oficina de criação literária à distância depende, em quase toda a sua totalidade, do aluno. Participar de uma oficina de literatura é uma etapa fundamental na carreira de qualquer escritor – até dos mais experientes. Você já cursou alguma? Deixe seu relato nos comentários.

Esse é um post escrito por mim em parceria com Marcelo Spalding, diretor da Metamorfose Cursos.