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Fotografia: Renato Parada/Divulgação |
A escritora, jornalista e ilustradora Elvira Vigna deixou uma obra que só deverá ser plenamente reconhecida na literatura brasileira nas próximas gerações. A notícia de sua morte surpreendeu a todos os que já conheciam e acompanhavam seu trabalho; em uma luta secreta contra um carcinoma desde 2012, Vigna escreveu seus melhores trabalhos -- entre eles sua magnum opus Como se estivéssemos em palimpsesto de putas (Companhia das Letras, 2016)-- durante a convivência com a doença.
No período, ela compareceu a eventos, trabalhou ativamente na divulgação de seus trabalhos, escreveu livros e recebeu prêmios. Por escrito, sua penúltima obra, ficou em segundo lugar no Prêmio Oceanos 2015. Em 2016, a Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) concedeu o prêmio de melhor romance a Como se estivéssemos em palimpsesto de putas. Anos antes, Vigna conquistara o Prêmio ABL de ficção, romance, teatro e conto com o livro Nada a dizer (Companhia das Letras, 2010).
Sua obra é marcada por personagens ambíguos, de caráter flutuante e uma agressividade visceral à altura da originalidade. Com sua habilidade narrativa, consegue trabalhar as perspectivas em jogo, legando ao leitor o papel ativo de identificar as meias-verdades, tergiversações e juntar os pedaços para compreender os sentimentos envolvidos na trama. Outro destaque das suas histórias é o protagonismo feminino, muito distante dos clichês.
Em evento na Biblioteca Pública do Paraná, Vigna afirmou:
Homem nenhum chega para você e diz: 'minha vida hoje está muito monótona, está ruim, eu não tenho mais adrenalina nenhuma, nada de interessante acontece, tenho uma situação banal, estou sendo massacrado por um trabalho que odeio, por uma relação em que não estou inteiro'. Ele não consegue falar disso. A noção dele de poder, ou de masculinidade, faz com que ele queira se ver, e se vender num livro, como alguém que viveu algo único, interessante, aventureiro, em que ele se tornou herói, mesmo que com o sinal trocado. Porque, mesmo com o herói da marginalidade, que vomita na Avenida São João, por exemplo, ainda é um herói. Ainda é o 'ó do bobó'.Durante sua vida, publicou 10 romances, além de ensaios, contos, crônicas e artigos em antologias, periódicos e revistas literárias no Brasil e no exterior. Seu trabalho também inclui textos teóricos, traduções e ilustrações -- o que lhe rendeu inclusive um prêmio Jabuti em 1980.
Edições mais antigas ou esgotadas estão disponíveis gratuitamente no site da escritora. Veja aqui outros livros.
- Sete anos e um dia (Editora José Olympio, 1988)
- O assassinato de Bebê Martê (Companhia das Letras, 1997)
- Às seis em ponto (Companhia das Letras, 1998)
- Coisas que os homens não entendem (Companhia das Letras, 2002)
- A um passo (Editora Lamparina, 2004)
- Deixei ele lá e vim (Companhia das Letras, 2006)
- Nada a dizer (Companhia das Letras, 2010)
- O que deu para fazer em matéria de história de amor (Companhia das Letras, 2012)
- Por escrito (Companhia das Letras, 2014)
- Como se estivéssemos em palimpsesto de putas (Companhia das Letras, 2016)